07 julho 2016

TÍTULO: SOBRE ONTEM

Senti-me derrotada na terça feira, dia 05 de julho de 2016. Uma sensação de impotência diante dos delírios de minha mãe. Prendi o choro e a vontade de jogar algo na parede, para que toda essa minha frustração saísse do corpo. Vivo tensa, com dor nas costas, nos ombros. Tentei, juro que tente. Começou por volta das 14 h, e após uma horinha sentada com ela, na sala, mostrando seus bibelôs, a mesma história rebobinava e começava tudo de novo. Na sua fantasia, essa casa não é dela. E sempre me pede para levá-la de volta, para junto de seus pais, do seu irmão ou do esposo. Neste dia, queria por que queria voltar pra casa e nada a distraía. Foi um dia muito difícil.
Sai com ela, fomos ao Play. Subimos e a mesma história. Fui no corredor com ela e cada porta queria bater. Chegou a tocar uma campainha e a vizinha abriu. Mamãe não perdeu tempo e, na sua linguagem, reclamou de mim pra ela.

Sei que outros dias iguais a esse virão.

Será que estarei preparada? Não. Nunca estamos preparadas para o que poderá vir.

Mãe tentando abrir a porta para ir embora

No YouTube tem vídeos desses momentos.

Link: https://youtu.be/BdKWfivTvPM ; https://youtu.be/wL_10YJkA-8 ; e
o vídeo quew mais "bombou" no youtube: https://youtu.be/fguGqKAEOnw ;
https://youtu.be/L4DDMqffBYI



03 julho 2016

TÍTULO: PENSAMENTOS SOLTOS


Depois de alguns dias escrevendo, fiz o convite para uma amiga, que tenho como irmã. Foi motivador. Ela conseguiu captar o que sinto e me apoiou. Com isso, resolvi divulgar para outros amigos e, continuei escrevendo. Não vou citar nomes, até porque não será necessário, eles irão se identificar. Ler a alma não é uma coisa comum e isso poderá se tonar cansativo. A história se repete e a minha angustia é fotografada o tempo todo. Não vou por maquiagem nas palavras. Escrevo o que sinto e o que vejo, sob uma perspectiva do final que me aguarda. Alzheimer não tem cura. O que morre são as memórias, no princípio as recentes, depois parte para as medianas e, finalmente, apaga tudo. O corpo começa a falhar e a pessoa não consegue nem se comunicar, comer ou se interessar por algo. Decisões deverão ser tomadas nessa fase final. Colocar uma sonda para facilitar a alimentação, por exemplo. A internação talvez seja uma solução, mas hoje ainda não penso nisso. Ou melhor dizer, não quero nem pensar nisso.

Mas uma coisa importante devo ressaltar, escrever está me fazendo um bem enorme e, recomendo isso a todos. Registrar pensamentos, sentimentos, opiniões, reler depois e ver o que mudou, etc.

Hoje aceito a doença.
Difícil foi chegar a este momento.
Garanto a todos que a frase "aceita que doí menos" é real.
Se antes ficava irritada quando minha mãe deixava cair a comida no chão, o mesmo chão que eu tinha acabado de varrer, hoje eu apenas observo, e a limpo. Ela fica me olhando esperando alguma reação, feito criança que sabe que fez algo errado. Mas será que é errado? Não. Não é. Isso porque a sua coordenação motoro está comprometida e é esperado que isso aconteça. Então, por quê se chatear com coisas tão tolas? Não vale a pena. Dê atenção a outras necessidades e irão descobrir um universo.

Link do vídeo: https://youtu.be/AQlu5tBPV_w
O que fazer se a comida cai de minha boca
e mancha o meu vestido?
Como posso segurar um copo, se minhas mãos
não mais me obedecem?
Como evitar a vergonha de me encontrar
toda suja e urinada?
Nem percebo quando tenho essas necessidades.
Não brigue comigo, por favor,
não o faço por querer.
Simplesmente acontece.
Muitas vezes, nem isso percebo.
Tenho fome, tenho sede, e esqueço as palavras.
Estou carente e quero um beijo,
desejo teu abraço,
quase nunca estou contente.
Meu mundo ficou pequeno,
meu mundo agora é você.
Que ainda reconheço.
Sinto falta de todos, mas quem são todos?
Se hoje só tenho você por perto.