27 junho 2019

Aceitar

Não querendo ser repetitiva, mas sendo, o aceitar a doença é muito importante. Passei por isso e confesso que no período de não aceitação, sofri muito e a fiz sofrer. Pois acreditava que mamãe fazia as coisas de proposito. O problema dela em ir ao banheiro era crítico e, como tomava medicação escondida para provocar a evacuação e, isso já tinha ocorrido um grave problema de saúde nela, fiquei mais atenta.Como aceitar?
Vejo nas redes sociais a dificuldade de cada um de vocês. Em alguns caso penso, passei por isso e fiz aquilo e, em outros casos, graças a Deus que não vivi isso. Cada situação é diferente, pois depende muito da personalidade do paciente. Minha mãe, por exemplo, sempre foi uma pessoa forte nos seus 1,50m, que crescia quando falava e o "não" dela é "não mesmo". Teimosa como todo idoso e não gostava de ser contrariada. Quando as crises começaram eu fiquei muito perdida. Não sabia para quem perguntar e nem como dividir minhas dúvidas e frustrações. Tinha percebido que, ao falar com meus amigos, muitos mudavam de assunto ou diziam a frase tradicional "Deus vai ajudar". Mas, naquele momento eu queria apenas um abraço, um ouvido, um sorriso e não uma frase padrão. Sim, Deus iria me ajudar, mas só se eu permitisse. Nessa fase inicial eu estava brigada com Ele.
Aceitar.
Foi muito difícil e levei muito tempo.
Perdi meses.
Tinha uma rotina diária. Mamãe ainda andava e me ajudava, pouco, mas ajudava. Ficava sentadinha na sua poltrona vendo TV e olhando suas revistas, recortando.
Deus sabe como me arrependo de não ter filmado essa fase. Só entrei no Youtube em 2009, para guardar os vídeos analógicos que eu tinha das nossas viagens a Espanha e do meu pai, já falecido nessa época.
Muitos se afastaram como se Alzheimer fosse contagiosos. Poucos ficaram. Hoje, conto nos dedos os que ainda ligam ou mandam mensagens. Vocês devem conhecer a famosa frase "Se precisar de algo, me avise". Pois precisei várias vezes e a pessoas não podiam naquele momento. Ou, simplesmente vinha rapidinho e iam embora. Desisti de pedir. Esbarrar com pessoas na rua e, que tem o hábito de perguntarem por minha mãe, sempre querendo saber a idade dela. Nossa! Tudo isso! E ainda fazem aquela expressão de que ela já viveu muito. Caramba! Ontem mesmo foram duas pessoas que perguntaram.
Teve um dia, no elevador, que um senhor estava conversando com outro e um deles perguntou a idade da mamãe. Respondi. Foi mais ou menos assim:
Ele - Nossa! Deve ser muito triste chegar a essa idade e não tem saúde, o melhor mesmo é que a gente viva menos e não dê trabalho para os mais jovens.
Eu - Então eu devo ser uma filha muito egoísta, pois a prefiro ao meu lado e não ligo se isso for me dar trabalho.
Pena que o elevador chegou na portaria.
Mas, eu estava falando do aceitar. Como aceitar? Bem, não há receita mágica e cada um de nós tem uma maneira. Tem gente que o faz tão tranquilamente que nem percebe e, outras, como eu, levam um tempinho. Precisei conhecer a doença primeiro. Pesquisei muito. Li livros, assisti filmes, entrei em grupo nas redes sociais e fui aprendendo a lidar com cada situação. Cheguei a ter crises nervosas, choros ininterruptos, briguei com ela acreditando que tudo era de propósito. Fiquei noites sem dormir, meu dia tinha 30 horas. Parei de me cuidar. Um dia, putf! Caiu a ficha. Eu estava agindo de uma maneira estupida, preconceituosa, covarde, tola e infantil. Aquilo não era eu e sim, o que estava me tornando. Nunca fui egoísta. Sempre amei meus pais e os respeitava, obediente e temente a Deus. O que estava acontecendo comigo? Estava doente. Precisava mudar ou ela iria ficar sozinha.

Jesuíta com minha mãe no aniversário dos seus 87 anos.






Angela com mamãe em 2016.


26 junho 2019

Cataratas

Desta vez quem estava com problemas era eu. Em 2012, descobri que estava com cataratas. Como assim? Cataratas não é doença de velho? Não. Descobri que a cada ano, mais jovens estão desenvolvendo cataratas. Eu faço parte deste 1% da população jovem.
E agora?
Como fazer para cuidar da mamãe se não vou poder me aproximar de um fogão e nem pegar peso por 30 dias? Jesuíta. Mais uma vez esse anjo veio nos ajudar. Fui com a amiga Conceição para me internar e, após a cirurgia, fiquei tonta com queda de pressão.
Dois anos depois, operei a segunda vista, no dia 14 de Maio.
Angela veio ficar com a mamãe e eu fui com a Dna Docelina, mãe da Rosana. Internei as 11:30 e as 17hs estava em casa. Foi bem tranquilo.
Nessa época, a Angela estava de licença médica e quem estava trabalhando duas vezes na semana conosco era a Tatiana.
Fiquei dois anos usando o óculos sem uma das lentes, já com a vista operada, enquanto aguardava a oportunidade de realizar a da outra vista.





E as quedas continuavam. Do nada, mamãe caia. Só que eu estava com a vista recém operada e não podia pegar peso e, o jeito foi chamar ajuda. E os períodos de sono. As vezes, mamãe acordava cedo, tipo cinco horas da manhã e depois voltava a dormir, o dia todo.
Mal sabia eu que o disgnóstico do Alzheimer estava pra chegar e, tudo isso seria justificado.

Chegamos ao Alzheimer

O ano de 2014 começou com uma sensação térmica acima dos 50 graus. Nesse período, saiamos pouco, impossível ficar nas ruas cariocas com o sol sob nossas cabeças. Íamos ao play a tardinha ou ficávamos vendo TV, com os ventiladores no máximo.
Mas o apartamento precisava ser pintado.
Todo o apartamento de pernas pro ar e em cinco dias, essa etapa foi vencida. Mamãe andava de muletas e chegou a tropeçar uma vez e caiu de bumbum. Não foi nada grave, mas na hora, me lembrei da outra queda e corri para me assegurar que estava tudo bem. Estava.
Outra queda que ela teve foi ao pé da cama, quando se levantou e não conseguiu segurar a urina. Escorregando nela.
Por usar aparelhos auditivos, fomos fazem, de manhã, um exame de audiometria e, dentro do próprio mês, oculista. Mamãe fez o mapeamento da retina e a capsulotomia, pois já tinha realizado, alguns anos atrás, a cirurgia de catarata.
As costuras continuavam firme e fortes e fiz várias camisolas para ela. E as brigas? Bem, o motivo era sempre o mesmo. Donativos para o programa religioso. Teve um dia em que ela se recusou a comer, porque me recusei a dar 500,00 reais, Gente, pare pra pensar, esse valor era muito em 2014 (ainda é nos dias de hoje) e ela fez greve de fome. Então fui no banco e fiz um deposito de 50,00 reais e mostrei a ela o canhoto. Ficou tão feliz que me beijou e abraçou muito e foi comer. Depois entendi que ela tinha visto um zero a mais no depósito, ou seja, ela reconheceu os 50 como se fossem os 500 que ela queria dar.
Estranho.
No dia Internacional da Mulher, chegou a calopsita Bruna, que tinha nascido em 28/01/2014. Minha primeira. Só que ela veio como se fosse um menino, Bruno, um ano depois, descobrimos que era menina. Minha amarelinha arisca. Foi um custo ela me aceitar, a subir no dedinho e ficávamos uma correndo atrás da outra na hora de entrar na gaiola. Ela na frente e eu atrás. Mamãe se encantou com ela.



Marrone chegou no mesmo ano, no dia 8 de novembro, com cinco meses de idade, para fazer companhia ao "Bruno".









Um Milagre em nossas vidas

Só posso começar escrevendo que um Milagre aconteceu em nossas vidas com a franca recuperação de mamãe. Após um período muito difícil entre outubro de 2010 e março de 2011, sem falar das quedas e da total dedicação a ela, para que o ano de 2011 fosse concluído, o ano seguinte foi bom. Muita fisioterapia, saídas a passeios externos, uma alimentação forte e saudável, Hobbies para distraí-la e, o Alzheimer ainda não tinha chegado a nossa porta.
Chegou 2013 e, em fevereiro a Jerusa nos deixou. Sumiu. Do nada faltou 15 dias e quando retornou, comunicou que não mais voltaria porque estava cansada de ser ofendida por minha mãe. Como assim? "Ela fala na linguá dela coisas que não entendo, parecendo que está me xingando." Mas não está. Afirmei. Ela nunca foi de ofender as pessoas e nunca admitiu palavrões em casa. Mesmo assim, ela foi embora e me deixou na mão de um dia pro outro. E agora? Fui a luta e com as mangas arregaçadas, assumi a casa, além das tarefas com minha mãe. Para sair para fezer compras ou outras tarefas, contei mais uma vez com a ajuda da Jesuíta. E aos sábado, uma faxineira finha fazer o serviço mais pesado.
Então, vocês irão pensar, porque não ficou com a Jesuíta logo, já que ela já tinha trabalhado pra nós durante tantos anos e seria uma pessoa de confiança? Porque ela estava com problemas de saúde e já não podia trabalhar em casa de família e sem forças para segurar a mamãe. Tinha que arrumar outyra pessoa e, urgentemente.
Então, em fevereiro, faleceu uma vizinha nossa. Ângela trabalhava nessa casa. Após um período de luto onde ela ajudou a família no imóvel, fiz o convite, que aceitou prontamente. Abril daquele ano, ela começou a trabalhar aqui em casa, não todos os dias, mas em dias alternados. Basicamente, ela ficava responsável pela casa e eu pela minha mãe.
Depois de um ano, Ivana foi embora, seus horários estavam ficado difíceis, devido as novas funções no trabalho como fisioterapeuta. Entrou a |Rosana, que todos já conhecem.
Outubro chegou e lá fomos nós para o hospital do Méier, mamãe com febre alta e tosse. Pneumonia.
Liberada para o tratamento com antibióticos em casa.
Nessa época, ela me acompanhava ao supermercado, me ajudava na cozinha, descascando os legumes, e fomos algumas vezes na Casa de Espanha, no Humaitá. Comprei uma máquina de costura portátil e, mesmo nunca tendo costurado na vida, fiz alguns vestidos para ela, do tipo de ficar em casa. Todos bem coloridos, estampados, fresquinhos. Muitos destes vestidos, vocês podem ver nos vídeos.
Foi um período produtivo, saiamos para comprar os tecidos, eu cortava o molde e ela fazia o primeiro aliamento a mão. Depois eu passava na máquina e a primeira prova, os acertos e erros e nosso primeiro vestido junto. Fiz panos de cozinha (os primeiros ficaram assustadores) para treinar, lencõis e fronhas, e uns dez vestidos.
Um determinado dia, mamãe estava fazendo a parte dela, pegou na tesoura e cortou ao meio a parte de trás do vestido e depois tentou juntar as duas peças, que deveria ser inteira. Fiquei olhando para a cena e não conseguia entender o que tinha acontecido. Como? Ela tem décadas de experiência em costura e fez isso! Consegui unir as duas partes na máquina de costura e, ela se desculpando, assustada, não entendendo porque tinha feito aquilo. Simplesmente era o Alzheimer batendo nas nossas caras. Só que ainda não sabíamos
Hoje, parando para escrever, recordo desses momentos e vejo quantos sinais me foram dados. Mas, temos o hábito de dizer que essas coisas não acontecem nunca com a gente... só com os vizinhos, de preferencia, distantes.








25 junho 2019

Perguntaram: "como me escrevo no Blog, usando o celular?" Simples. Vamos ao passo a passo. 
1. Entre na pagina (PRIMEIRA FOTO); 
2. Role a página até o final e você verá "Visualizar versão para web". (segunda foto) Clique. 
3. Irá aparecer a verão Web nele os amigos que já estão inscritos com a opção "seguir" (terceira foto) clicar e pronto. 
4. Você está inscrito (quarta foto).





24 junho 2019

Título: O Início

Mamãe nasceu no século passado, em 1927, em Mallorca, uma das cinco ilhas d arquipélago de Baleares, na Espanha. A caçula de dois irmãos. Meus avôs trabalhavam na roça. No verão plantavam na terra alugada, pois eram meieiros e vendiam o que não consumiam na feira.  No inverno, minha avó trabalhava em casas de família e meu avô buscava colocação em outras terras. Os três filhos ajudavam na terra. Por serem meeiros, minha avó sempre ficava em busca de uma terra melhor, de uma casa maior e não tinha receio de trabalhar. Era ela quem comandava a casa, guiava os filhos e mandava no marido, meu avô, que preferia ficar com os amigos, fumar cigarro de palha e jogar cartas.Ela estava sempre arrumando trabalho para ele e ele ia. Acordava antes do sol e iam dormir junto com as galinha. Trabalharam e moraram em quase todas as cidades de Ilha. Minha vó era conhecida pela sua força e temperamento. Mulher honesta e prestativa. Minha mãe contou que teve uma ocasião que a vovó estava servindo a mesa, num jantar, de uma família abastada. Mesa farta, com as pessoas mais importantes da cidade e, de repente, ouve-se um "pum". Todos olham para a cabeceira da mesa e, minha vó ao seu lado, se desculpa envergonhada, dizendo que não estava se sentindo bem e pedia autorização para se retirar da sala. No final do jantar, a patroa vai até a cozinha para realizar o pagamento pelo serviço e acrescenta mais uma cédula de gratificação por ela ter assumido e a livrado do vexame. Foi o "pum" mais bem pago da história de nossa família.





Na cidade de "La Puebla", mamãe morou a maior parte da sua juventude, até porque nasceu nesta cidade. Nela existe uma praça bem em frente a Igreja de Santo Antonio e a Prefeitura. Nesse local, as festas da cidade são comemoradas. Aos domingo, os jovens frequentavam esse local e, havia carrocinhas de Churros, avelãs, o famoso Lambe Lambe e outras iguarias. As moças passeavam ao redor do chafariz e os rapazes, no sentido ao contrário e quando os olhares se encontravam, ocorria a paquera. Numa época em que mamãe estava aprendendo a costurar com uma prima, elas iam passear nessa praça e havia um rapaz que se interessou por ela. As coisas eram bem diferente nos anos 40 e num assedio maior, o rapaz foi até a minha mãe para tocar em um dos seus seios. Só que ela já imaginava que isso poderia acontecer, pois algo parecido já tinha ocorrido com sua prima, que era apenas um ano mais velha. Então, ao sair de casa, colocou vários alfinetes no sutiã, de maneira que ficasse com as pontas viradas para fora do seio. Bem, o respo vocês podem imaginar, o rapaz se atracou e ao tocar no seio direito dela, ficou com a mão toda perfurada pelos alfinetes e saiu sacudindo a mão e praguejando e ela, o chamou de volta, pois só tinha tocado o direito, faltava o esquerdo. A rapaziada ria muito e ele se tornou a piada durante um bom tempo. 
Num segundo momento, o filho de um senhor importante da cidade se aproximou com um pacote de avelãs e os ofereceu a minha mãe. Queria pedir para namorar e, a desculpa que ela deu era que o jovem era muito "menino" ainda, pois nem fumar ele fumava (naquela época era Chic e não se sabia os danos que o fumo causava). Pois bem, na semana seguinte, o jovem apareceu na praça com o maior charuto que ele tinha conseguido encontrar, fumando e engasgando. Mamãe teve que falar a verdade pra ele que, mesmo fumando um charutão, ela não tinha interesse em namorar naquele momento. O rapaz era o melhor partido da cidade e, na semana seguinte, voltou a praça com uma jovem a tira colo, para mostrar que ele não iria ficar sozinho.





ANTIGA POSTAL A.T.V.-10 DE LA PUEBLA. MALLORCA. CIRCULADA







Bem, ela só foi conhecer meu pai em 1949, apresentado pelo namorado de uma amiga. Isso mesmo, encontro as escuras. Um casal não podia sair sozinho, sem companhia de outra pessoa, o famoso "segura vela." Então, para facilitar, nada melhor que dois casais. Mas, isso é outra história.

20 junho 2019

Título: E finalmente o ano normalizou

Durante o ano de 2011, a mãe estabilizou.
Mas antes disso ocorrer, ela desenvolveu uma alergia a uma determinada fralda. Ficou toda manchada de pintas vermelhas, que coçava muito. Parecia que usava uma fralda sob a pela, ficou bem marcada e, aos poucos, começou a se espalhar pelas cochas e costas. Ficou horrível. A levei ao pronto socorro na Tijuca e lá mesmo, entrou com medicação na veia e começou tratamento com corticoides e anti alérgico. Foi uma semana passando creme para evitar que coçasse e usando medicação. Essa marca não usei mais.
Voltamos para as consultas com a Dra Anne (geriatra), fomos ao otorrino, a fisioterapia era contínua, conhecemos o Dr. Ary, gastro que passou a tratar dela por vários anos.
As unhas eram feitas semanalmente e o cabelo cortado sempre que necessário, a vaidade estava voltando.
Nessa época, mamãe voltou a recortar suas revistas e a separar as figuras por temas, fazendo álbuns. Todos os dias, após o café da manhã e o banho, ela ficava sentada na poltrona, na sala menor, vendo TV (geralmente o programa religioso favorito), rezando o terço e se distraindo com as revistas de turismo. A tarde, após o almoço, geralmente ia tirar um cochilo e, quando não saímos para dar uma volta no bairro, íamos ao play ou víamos um filme na Tv. Geralmente desenho animado.
E eu?
Bem, procura dar conta de tudo isso e mais alguma coisa.
O Natal chegou e esse ano comemoramos e, tudo que passamos juntas só veio a fortalezer nosso amor e respeito. Minha mãe é uma mulher forte, uma guerreira, que venceu a morte três vezes em menos de cinco meses. Mal sabíamos que muita coisa ainda veria. Mal desconfiávamos que o Alzheimer estava batendo na minha cara.





Título: Quinta da Boa Vista

Durante o ano de 2011 fomos a Quinta da Boa vista passear. Fomos no Museo na primeira vez e nas demais, no Zoológico. Ela sempre gostou de olhar os animais e ficava sempre muito encantada. Íamos de carro com o farnel a mão. Chegávamos cedo e depois de umas duas horas de passeio, voltávamos pra casa, almoçávamos e cama. Ela descansava e depois víamos um filme na TV.












Título: Culpa

Finalmente "perdi a cabeça" depois de tantas noites sem dormi, tantas vezes que a levei a emergência, tantos médicos sem acertarem a medicação e as 3 internações. Tudo tem um limite. Fiquei doente e mesmo assim, não fui ao médico. Fiquei com ela todas as noites, acordas. Sai com ela todos os dias com o objetivo de distrai-la e ela ficar cansadinha e, nesse dia, descobri que o remédio tarja preta estava diminuindo. Isso mesmo, eu passei a controlar todas as medicações e ela sabia a onde eu guardava. Sempre foi muito observadora e, quando não pegava no sono, mesmo eu ter dado o remédio para dormir, ela acabava se levantando, com toda a dificuldade que tinha e risco de quedas e, ia até o armário e tomava mais um comprimido escondida. Percebi e comecei a contar os comprimidos. Afinal de contas, eu podia estar errada.
- Mãe, você tomou o remédio?
- Não.
- Fala verdade, mãe. Esse remédio é controlado e você pode passar mal.
- Não, filha, não tomei.
- Então alguém está pegando escondido, porque ontem a noite tinha XX e hoje tem um a menos.
- Então foi a empregada.
- Se foi ela, vou demiti-la, porque quem pega remédio escondido, pode pegar qualquer outra coisa.
- Não faça isso, filha, por favor.
- Por quê?
- Porque fui eu quem pegou, eu não conseguia dormir e tomei mais um.

Conclusão, ela estava tomando uma dose muito alta de remédios para dormir e, quando não conseguia, pegava mais. Então, as noites em que ela conseguia, era porque estava "dopada" e eu, estaria muito encrencada se ago ocorresse com ela, afinal de contas, sou a filha quem cuida, quem controla a medicação, e fico 24 horas com ela.
E agora?

Briguei com ela, falei um monte de coisa, coloquei tudo pra fora.
Depois veio a culpa.
Culpa por não ter percebido antes. Culpa por ter brigado e falado o que pensava. Culpa por não estar dando conta, pela minha falta de experiência e ingenuidade, culpa, culpa e mais culpa.
Não dormimos essa noite.

Dois dias depois, nova queda, apesar das barras de segurança, ela caiu da cama. Caiu? Tirou a barra e se jogou. Desta vez não a levaria ao mesmo hospital do Méier, pois estava bastante envergonhada de não estar dando conta do recado e ela se machucando. Estávamos no dia 15 de março e ela levou pontos na cabeça. Ficamos até as 5h da manhã e, ao retornarmos para casa, mudei a cama dela de lugar, encostando na parede. Ficou horrível, mas era o jeito, pelo menos ela não iria cair e, se caísse, teria um colchão no chão, ao lado da cama para ampara-la.
No dia seguinte a levei a outro Neurologista.
Dois dias depois, no Pneumonologista.
Dia 25 retornamos a Geriatra que passou uma nova medicação em gotas. Finalmente, a Dra ASnne tinha acertado. Mamãe voltou a dormir a noite. Por dois dias.
No terceiro teve insônia e foi assim, durante o primeiro mês. Ela dormia dois ou três dias e no seguinte não. O remédio foi ajustado e na sequência, ela estabilizou e as noites ficaram boas.






Título: Nova internação

O ciclo recomeçava. Em plena terça de carnaval, dia Internacional da Mulher, mamãe tem uma crise de ar forte, hoje já sei que foi um bronco espasmo, por volta das 16 horas. O dia começou bem, com passeio no quarteirão, almoço, cochilo e fisioterapia. Ao retornar, começou a se sentir mal e, sem pensar muito, a levei para o hospital que fica no Méier. Lá ela foi estabilizada, fez exames e a desconfiança era embolia pulmonar. Aguardamos vaga no CTI e, como não havia, ela foi transferida para o hospital da Tijuca. Meia noite eu estava dando entrada na papelada. Deixaram ficar com ela por uns poucos minutos e, no dia seguinte voltaria para visita. Voltei pra casa e nem sei como cheguei. Estava de carro e as ruas desertas, eram 01:40h da madrugada, as lágrimas rolavam e eu mal enxergava. Fui rezando pelo caminho todo, pedindo a Deus para que tudo desse certo pois era a terceira vez que a internava em menos de 5 meses.
No dia seguinte, eu estava na recepção aguardando a hora da visita com uma amiga, a Lúcia. Houve um atraso na entrada e estavamos bem preocupadas, pois quando atrasos ocorrem é sinal que alguém no CTI estava precisando de atendimento imediato ou estavam concluindo algum procedimento.
Ela estava bem.
Conversando muito, cantando para as técnicas de enfermagem, alegrando o ambiente. Tinha almoçado e estava com uma aparência muito boa. Tinham feito raio X e uma tomografia dos pulmões e nada tinha sido encontrado. Ela iria permanecer por mais 24 horas no CTI para ser observada. Não teve nenhum bronco espasmo desde então.
No dia seguinte retornei com a Conceição e ela teve alta após o horário da visita. Vou para o quarto 412 e eu voltei pra casa para buscar uma roupa para dormir com ela no quarto e também o talão de cheques.
Ao retornar para o hospital, ao sai do elevador, já escutei os gritos de minha mãe que, por estar sozinha no quarto, ficou muito agitada e foi amarrada na cama, ou no termo que preferem, contida.
Fiquei muito chateada , pois tinha avisado a equipe que iria em casa e em uma hora retornaria e, elas a contiveram na cama com correias de pano, piorando ainda mais o estado dela. Reclamei com a enfermeira chefe que apenas olhou e disse que foi necessário, pois não tinha ninguém no quarto e ela não eram "obrigadas" a ficarem olhando o tempo todo. Lógico que, depois dessa situação, minha mãe custou a dormir e eu, nem isso. As 6hs eu estava pegando um táxi para ir em casa, arrumar meus passarinhos, tomar um banho e o café da manhã e as 9:30 estava de volta. O médico deu alta antes das 11 horas.
Meio dia estávamos em casa.
Fui preparar o almoço e ela foi dormir.
Mamãe estava de volta e eu aliviada, tudo não passou de um susto.
A noite chegou e, o problema de sono continuava. Ficamos acordadinha, juntas das 2h as 4:30h, quando finalmente, ela voltou a dormir até p dia seguinte.


19 junho 2019

Título: Meu aniversário 50 anos

Não podíamos passar em branco os meus 50 anos de vida. Chamei aqueles que ficaram o tempo todo conosco para comemora. Jesuíta e Conceição. E cantamos parabéns com um lindo bolo.
Fora as comemorações, a falta de sono dela e a agitação noturna, hoje nitidamente, do Alzheimer, estava me enlouquecendo. Não conseguia entender o que estava se passando com ela e, as quedas continuavam, as idas a emergência também e, como não era pra ser diferente, no domingo de carnaval, dois dias depois do meu aniversário, nova queda, desta vez no quarto, da cama e, desta vez eu vi, ela se jogou.













(em construção)




Título: Fisioterapia

Ivana ficou conosco durante todo o ano de 2011 e foi ela quem colocou minha mãe de pé. Só tenho que agradecer a essa profissional que acreditou na recuperação de minha mãe e me respondeu, quando perguntei se ela teria uma chance de voltar a andar, que sim.
Os passeios continuavam acontecendo e as idas ao play para tomar um sol também. Nessa época nem pensava em filmar, pois não tinha ideia que um dia iria montar uma página no YouTube e, também nem tinha um celular bom pra isso.
No final de fevereiro a levei a um neurologista, na tijuca. Que pediu uma tomografia e conversou com ela. Fez um receituário para que ela voltasse a dormir durante as noites, coisa que ainda não tinha acontecido por um período maior de um dia a dois seguidos. No quinto dia minha mãe babava, sem reação e todo o esforço da fisioterapia, tinha ido por água a baixo. Não fica de pé. Liguei para o neurologista e falei sobre a medicação e como ela estava. Mandou continuar, pois o tratamento era esse, afinal de contas, queria que ela dormisse ou não? Minha mãe estava dopada.
Mudei de médico.
No domingo, dia 27, ela caiu de novo e fez um galo enorme na cabeça. E lá fomos nós para a emergência.
Quando as enfermeiras começam a te reconhecer no hospital é porque tem algo errado.
No dia seguinte, foi um dos piores dias, mamãe estava estranhamente agressiva, agitada, confusa e todos os limites foram ultrapassados. Não conseguia ir ao banheiro, ela tentava se levantar e eu a sentava, dava algo para ela comer ou beber, ela cuspia, tentou me bater e a Jerusa, coitada, saiu de casa assustada.
Paralelamente com a Ivana, o plano de saúde encaminhou uma fisioterapia que vinha também duas vezes na semana e ficava com a mamãe tipo 15 minutos, enquanto a particular, ficava uma hora. Foram 10 sessões.







Título: Quedas

Dia dois de fevereiro, mamãe sofreu uma queda e bateu com a cabeça no chão da sala a tarde. Corri para a emergência. Fez tomografia e levou alguns três pontos na cabeça.
Nesse mês a Vera decidiu ficar tomando conta da loja permanentemente e trabalho, como último dia, na quinta feira. Estava na hora de buscar alguém para me ajudar em casa. Não podia ficar sozinha com ela e, ao sair, ficar com medo dela se machucar. Me indicaram uma moça, Jerusa, que tinha trabalhado pouco tempo com outra senhora no prédio em que moramos. Foi contratada.
Cuidar é muito difícil mesmo, requer muita paciência e sabedoria.E no ano de 2011, foi muito complicado. Mal sabia que isso tudo poderia piorar.
As quedas continuaram acontecendo e os médicos doa emergência começaram a me questionar. Como assim? Ela estava se jogando no chão ou queria andar e não conseguia e, por isso caia?
As noites continuavam do mesmo jeito. Mãe não dormia e não deixava dormir. Quando começava a dar 18h eu já me desesperava. Sabia o que me esperava. Se observarem bem, na foto abaixo, onde estou de joelho ao lado da mamãe com um bebê nos braços (neto de uma amiga), estou bem magrinha, um luxo só. Mas não era dieta não, é que não tinha sossego para parar e comer. Mamãe sempre tinha meu nome na boca e me chamava direto e, eu já ia no quarto dela com o prato na mão, comendo.
Fazendo fisioterapia duas vezes na semana, perguntei ao profissional, se ela voltaria a andar novamente, mesmo com o auxílio de um andador ou muleta, como ela já o fazia. Minha resposta foi: "Só Deus faz milagres".
Como permanecer um profissional, que já atendia minha mãe por anos (se não me engano uns 4 ou 5 anos), que não acreditava na sua recuperação?
Contratei a Ivana todas as terça e quintas feiras.






Título: Janeiro do ano novo 2011


No dia 04 de janeiro, retornei com ela a emergência, devido a dificuldades de evacuar e com muitos gazes. Ressalto que ainda não conseguíamos dormir a noite e ela acabava cochilando de dia e eu não.
Eu procurava ficar com ela, no quarto, de noite, segurando usa mão e tentando tranquiliza-la. Ela queria tomar o remédio tarja preta e eu administrava o que me fora orientada. Mas ela queria mais. Eu não dava. Então, não dormíamos. No dia seguinte procurava o médico e ele ou mudava a receita, ou fazia um ajuste.
Alzheimer não existia nas nossas vidas.
Acredito, pelo diagnóstico da Dra Anne, a geriatra que acabou acertando a medicação, que nesse período ela estava na fase inicial.
A vida seguia em frente e eu procurava sair o menos possível para não deixa-la sozinha. Pedia ajuda de vizinhos e de amigos, para ficarem com ela quando fosse a rua, como no início do mês de janeiro precisei renovar minha carteira de motorista e a Jesuíta ficou de bom grado com ela. Conversaram e riram muito dos tempo antigos.
Comecei a sair com ela durante o dia para deixa-la cansada e de noite pudessemos dorimo. Fomos ao Shopping Iguatemi no dia 8 de janeiro e lhe dei uma boneca de presente.
Não adiantou.
Noite em claro.
Domingo terrível.
Crise de choro.
Fomos parar de novo na emergência, dois dias depois, desta vez em outro hospital, pois os médicos do anterior não estava ajudando muito. Nada contra, mas que fica de noite com ela sou eu.
Dr. Roberto passou nova medicação e sai de lá renovada de esperanças. Não dormiu. Lógico, o remédio leva um tempo para fazer efeito, pensei.
Noites ruins, acordadas, desesperadas.
No dia 12, a primeira e única noite bem dormida. Acordei renovada.
Jesuíta estava vindo todos os dias de manhã, até 12 horas, para ficar com ela enquanto providenciava e/ou resolvia coisas na rua. O fisioterapeuta Antonio, vinha duas vezes na semana a tarde e Vera uma vez na semana na faxina.
Logico que com tanto estresse, eu iria sucumbir. De fato, no dia 18 acordei passando mal, muito mal, com vômitos e diarreia. Foram dois dias assim.
E a semana seguia em frente com as noites mal dormidas e, o problema maior não era ficar acordada, era as idas e vindas para o quarto dela. Mamãe me chamava umas 8 a 10 vezes por noite. A colocava para dormir e ela ficava quietinha por 15 minutos e quando eu ia para o meu quarto, me chamava. Teve uma noite que contei umas 30 vezes. Verdade.
Isso sem falar que quando a trocava, após o banho,m com os lençóis limpinhos, ela fazia xixi na cama, antes mesmo de conseguir colocar a fralda limpa.
Respirar fundo e contar até mil.
A maquina de lavar nunca trabalhou tanto e as minhas costas estavam bem doloridas.
As despesas estavam bem altas e as fraldas eu conseguia uma parte na Farmácia popular com receituário e uma procuração dela.
Vera passou a vir todos os dias de manhã até 12 horas, liberando a Jesuíta, pois a Vera tinha montado uma loja de roupas no bairro que abria as 13 hs. Perfeito. Eu tinha ajuda.
Fiquei gripada e com febre.
Mas, tinha que continuar.
A levei ao Dr. Paulo que mudou a medicação, de novo. Prescreveu um tratamento alternativo chamado Oxônio três vezes na semana, isso para regularizar o intestino.







Como sempre, a primeira noite com nova medicação, ela dormiu.E durante três dias foram assim.
Até que na quarta noite.......


Título: Fim de 2010

Conforme tinha dito, anteriormente, qualquer manifestação de dor, eu iria leva-la a emergência. Não esperaria a ambulância e, fui o que fiz no dia 29 de dezembro. Eram gazes. Luftal nela.
Ajax passou a vir três vezes na semana para me ajudar no banho dela. Comecei a aprender com ele, a identificar e o que fazer mediante a qualquer situação.
O única coisa que ainda não tínhamos resolvido era as noites sem dormir.
E antes que alguém me pergunte, adianto que foi assim durante quatro meses.
Tive crise de choro, emagreci, as olheiras chegava nos joelhos, todos os dias começavam do mesmo jeito, troca de fralda, preparar o café da manhã meu e dela, fazer o almoço, sair para comprar os mantimentos necessários, pagar contas e, tudo com um medo de ter que deixa-la sozinha por algum período de tempo e algo acontecer.
Passamos a noite de Ano Novo acordadas. De novo.







Título: Tudo de novo.

O laboratório ligou na segunda feira, dia 13 de dezembro, para avisar que o exame dela estava pronto e que, o sangue estava muito fino. Quem está habituado a fazer exames de sangue em casa sabe muito bem que ele nunca ligam, apenas mandam por e'mail ou entregam o resultado em casa, após alguns dias. A orientação deles foi de falar com o médico imediatamente pois, se mamãe sofresse um corte, um machucado, iria sangrar muito, pois a coagulação estava muito prejudicada. Com certeza, liguei para o plano de saúde e pedi para o médico me retornar, com urgência e, meus cuidados foram redobrados. Como não obtive retorno, procurei o Dr. Paulo, que atende no bairro para falar com ele e, a noite, ele me retornou. A orientações era a mesma e que também parasse de dar a medicação para afinar o sangue, o que eu já desconfiava.
Madrugada acordada.
A faxineira veio no dia seguinte e também vieram nos visitar as amigas Jesuíta e Conceição. O enfermeiro veio logo depois para dar o banho. Casa cheia.
Deus sabe os caminhos e nos fala o que fazer.
Comecei o meu dia com a troca de fralda e, percebi que havia um pouco de cocô, com um cheiro muito peculiar. Estava muito escuro e mole. O meu desespero começou e, antes mesmo das pessoas chegarem, eu já sabia. Era sangue. Sangue que estava saindo pelo anus, junto com o cocô. Meus Deus, vai começar tudo de novo.
O enfermeiro chegou e confirmou. Liguei para o plano de saúde e desta vez consegui falar com o médico dela, que pediu um ambulância para vir busca-la. Nesse meio tempo, fui orientada de aplicar o Cister, para tirar o tampão de cocô e o sangue ser liberado pelo ânus.
Começaram a chegar as visitas e a Vera, nossa faxineira, na época.
Enquanto, Ajax, o enfermeiro, aplicava o Cister e aguardava o efeito no quarto. Mamãe se contorcia e toda aquela cena da primeira emergência vinha a minha cabeça, eu caminhava feito uma barata tonta pela casa. Tinha que me ocupar. Fui fazer café pras visitas, que nem chegaram a tomar.
Ajax levou mamãe no colo para o banheiro e ficou com ela. Era muito sangue e cocô junto. O quarto estava todo sujo, lençóis e chão. Vera foi providenciar a limpeza e a casa ficou tomada pelo odor desta mistura. Nunca mais vou me esquecer deste cheiro. Se a morte tem cheiro, é esse.
A angustia pela demora da ambulância me deixou totalmente desorientada. No banheiro, mamãe teve queda de pressão, e Ajax foi eficaz no atendimento. Não a deixou desmaiar e ficou com ela todo o tempo. A levou para o quarto e Jesuíta permaneceu ao seu lado conversando. Houve várias trocas de fraldas e muito sangue. Vera ficava passando pela sala com baldes e panos sujos e retornava para mais uma limpeza no banheiro e no quarto.
Eu anestesiada.
Finalmente a ambulância chegou e fui com ela para o hospital. CTI. Fiquei no corredor aguardando notícias e acabei sentando na escada, aos prantos. Deus! Por quê? A culpa me abateu e as cobranças vieram: eu deveria ter tido mais paciência, buscado mais ajuda, ter feito algo diferente. A sensação de impotência e o sentimento de angustia me derrubaram. Naquele momento eu era um nada. Não sei bem direito o tempo que fiquei esperando mas, me pareceram horas. O médico de plantão veio ao meu encontro e disse que a hemorragia tinha parado e comentou que eu agi muito bem ao retirar o tampão de cocô, deixando o sangue todo acumulado no intestino sair. Ela poderia ter morrido se o intestino tivesse se rompido com a pressão do sangue e das fezes. Ela ficaria internada no CTI para receber plasma e sangue e pediu que eu fosse até a recepção providenciar a internação. As visitas seriam das 14h as 15hs.
Nem voltei para casa. Fiquei na recepção do hospital aguardando o horário de visita. Mamãe estava viva. Meus Bom Deus! Obrigada.
Dois dias depois fui doar sangue.
Três dias depois, ela foi liberada para o quarto.
Nesse dia fui comprar a "poltrona do papai", aquela que reclina, para quando ela voltasse pra casa ficasse mais confortável.
No dia 20, foi programado uma Coloscopia, então, alimentação zero e remédio para evacuar. Nada foi encontrado que justificasse o sangramento que teve. A única explicação foi que, por estar o sangue muito fino, deve ter ocorrido a ruptora de algum vaso, que acabou causando todo esse sangramento.
Recebeu anestesia e duas pessoas acompanharam o procedimento. Tudo muito tranquilo. Menos para minha mãe, que após esse exame, alucinou, contando coisas sem nexo.
Recebeu alta dia 22 de dezembro e, todos os dias, Jesuíta ia nos visitar e levar o meu almoço.
Ao retornamos para casa, mamãe não reconhecer o quarto. Muito confusa e cansada, conseguiu dormir a sua primeira noite.
Eu nem desconfiava que tudo aquilo tinha despertado o Alzheimer nela.
Os dias que se seguiram, foram extremamente estressantes, pois ela ainda não conseguia dormir de noite, só de dia. Ficava agitada, via sombras, falava sozinha e eu, dentro do possível, ficava com ela.
Conseguia cochilar durante uma hora e meia por noite, que era quando ela dormia.
Dr Paulo veio nos vistar na véspera do Natal e passou uma medicação para tentar faze-la dormir. Não funcionou. Foi o primeiro Natal sem arvore, sem presentes, andando de um lado pro outro, tentando acalma-la. Todos diziam que era devido o período em que ficou no CTI, normal isso acontecer com idosos, essa confusão mental e a troca do dia pela noite.
Minha grande surpresa foi a minha visita Rosângela, uma amiga muito querida, que veio a minha porta com um prato contendo a ceia de Natal. Tinha um pouco de tudo. Se ofereceu para fazer uma sopa de inhame pra mamãe no dia seguinte e cumpriu. Coloquei em potes para aquecer a medida que fossem necessários.
No dia de Natal, minha amiga Lucinda, que já tinha nos visitados durante a internação, veio com a família.
Eu estava perdida, com sono, cansada, estressa mais uma vez.
Qualquer sintoma de dor, eu estava pronta para correr com ela até o hospital mais próximo.





Ah! Estava me esquecendo, os dois coágulos, os da trombo, lembra?, pois bem, desapareceram. Não havia mais nada nos exames feitos no hospital. Acredita-se que, com a perda de sangue, eles foram juntos.