TÍTULO: As quedas.
É o meu maior medo.
Devido a artrose crônica nos joelhos, ela anda com muita dificuldades e dores. Por isso o uso da cadeira de rodas. Não tem como percorrer pequenas distâncias sem o risco de uma queda. A levo a todos os cômodos com ela. Lógico que ela me ajuda quando precisa ir ao banheiro e a cadeira não entra ou se deitar na cama. Levanta e o resto faço eu.
Mesmo com todos os cuidados, o risco existe. É real. No período que fica agitada, então, nem se fala. É um verdadeiro tormento. Cheguei a filmar esses momentos e fui duramente criticada pois, segundo essas pessoas, eu a estava deixando sofrer. Filmes de 60 ou 90 segundos, diante da porta de saída, num período de crise, tentava abrir a porta da rua. Lógico que não a deixaria muito tempo em pé e uma cadeira estava pronta para ela se sentar e, também, a porta tem cinco trincos. Se abrir um, não consegue abrir as outras. Uma das chaves fica na fechadura e é o que a distrai para não ver as outras. Estes vídeos estão disponíveis no YouTube..
Mas as quedas podem ocorrer, como ocorreram na crise ou sem crise. Acontecem mais fora da crise.
Não é possível acompanhar 24 horas por dia. Outras tarefas me chamam, dentro de casa. Tenho câmera baby, que fica ligada na sala e, deste jeito, consigo monitora-la quando está no quarto. Mas, e quando penso que ela está dormindo e acaba se levantando para ir ao banheiro? E quando acredito que está na sala vendo TV e a encontro indo para o quarto, em pé, se agarrando nos móveis? E quando a estou ajudando para entrar no banheiro ou no quarto e o joelho falha inesperadamente? Ou quando? Pois bem, pode acontecer.
A última quada foi a noite enquanto cobria os pássaros na área. Já estava limpa, deitada, com a fralda colocada e os remédios da noite. Pronta para dormir. Só que não estava e resolveu levantar, pegar o vestido que estava pendurado no cabideiro e sair do quarto. Tudo isso no escuro e sem fazer um ruído. Só ouvi ela me chamar. A encontrei no chão, com o vestido na mão. Não soube me explicar o que aconteceu e como caiu. Mas tinha um pouco de sangue no chão, acabara de ganhar um corte superficial no supercílio direito. Após estancar o sangue e colocar muito gelo, fiquei com ela por mais de uma hora, acordada, vendo TV, antes de voltar a se deitar. Pensa que acabou? Engano seu. Tornou a se levantar mais seis vezes após a queda. Fomos dormir as 23:30h. Nessa noite, o primo de uma das nossas vizinha, que estuda medicina, veio vê-la e me ajudou com o curativo e a recolar na cama.