11 dezembro 2016

TÍTULO: O Amanhã.

Você gostara de saber se terá Alzheimer?

Sabemos que o Alzheimer é genético e não hereditário. Isso não quer dizer que, estes genes não causam a doença, é necessário estar associado a diabetes, pressão alta, falta de vitamina B12, tireoides, trauma no cranio ou a idade avançada, para o Alzheimer aparecer. 

Não. Não gostaria de saber se terei a possibilidade de ter essa doença ou não. Não farei testes antecipadamente. 


Mas, você poderá dizer, mas se você souber se tem a chance de ter, poderá começar a se tratar. Concordo. Mas também, começarei a me preocupar, a associar toda e qualquer esquecimento a doença que ainda não tenho. Quem cuida de um doente com Alzheimer sofre muitas pressões e estresse.

Então, ainda não quero saber. Posso mudar de ideia quando a idade avançar e sinais começarem a surgir. 

Minha avó teve o que chamávamos na época de Esclerose. Faleceu com 71 anos decorrente a outras doença. 


Hoje, minha mãe tem essa demência.


Então, por quê sofrer por antecipação?



Minha avó materna, Catalina

TÍTULO: Nem tudo é preocupação.

AH! OS DIAS FELIZES EXISTE

Os momentos mágicos em que ela expressa o seu amor e me diz com todas as letrinhas "Eu te amo!". Nossa! Como recompensa, isso não tem preço. Fico sem chão e a minha vontade é de chorar copiosamente. Abraço e beijo muito a minha mãe, que está do meu lado me dizendo que me ama muito.



Tem também aqueles dias em que ela não me ama mais e diz que todas as letras que quer que eu vá embora e a deixe em paz.

E aqueles dias que eu já perdi toda a paciência e digo que vou mesmo. Mas não vou. Não conseguiria ir.

Eu também te amo, mãe.




TÍTULO: As quedas.


É o meu maior medo.

Devido a artrose crônica nos joelhos, ela anda com muita dificuldades e dores. Por isso o uso da cadeira de rodas. Não tem como percorrer pequenas distâncias sem o risco de uma queda. A levo a todos os cômodos com ela. Lógico que ela me ajuda quando precisa ir ao banheiro e a cadeira não entra ou se deitar na cama. Levanta e o resto faço eu.

Mesmo com todos os cuidados, o risco existe. É real. No período que fica agitada, então, nem se fala. É um verdadeiro tormento. Cheguei a filmar esses momentos e fui duramente criticada pois, segundo essas pessoas, eu a estava deixando sofrer. Filmes de 60 ou 90 segundos, diante da porta de saída, num período de crise, tentava abrir a porta da rua. Lógico que não a deixaria muito tempo em pé e uma cadeira estava pronta para ela se sentar e, também, a porta tem cinco trincos. Se abrir um, não consegue abrir as outras. Uma das chaves fica na fechadura e é o que a distrai para não ver as outras. Estes vídeos estão disponíveis no YouTube..

Mas as quedas podem ocorrer, como ocorreram na crise ou sem crise. Acontecem mais fora da crise.

Não é possível acompanhar 24 horas por dia. Outras tarefas me chamam, dentro de casa. Tenho câmera baby, que fica ligada na sala e, deste jeito, consigo monitora-la quando está no quarto. Mas, e quando penso que ela está dormindo e acaba se levantando para ir ao banheiro? E quando acredito que está na sala vendo TV e a encontro indo para o quarto, em pé, se agarrando nos móveis? E quando a estou ajudando para entrar no banheiro ou no quarto e o joelho falha inesperadamente? Ou quando? Pois bem, pode acontecer.

A última quada foi a noite enquanto cobria os pássaros na área. Já estava limpa, deitada, com a fralda colocada e os remédios da noite. Pronta para dormir. Só que não estava e resolveu levantar, pegar o vestido que estava pendurado no cabideiro e sair do quarto. Tudo isso no escuro e sem fazer um ruído. Só ouvi ela me chamar. A encontrei no chão, com o vestido na mão. Não soube me explicar o que aconteceu e como caiu. Mas tinha um pouco de sangue no chão, acabara de ganhar um corte superficial no supercílio direito. Após estancar o sangue e colocar muito gelo, fiquei com ela por mais de uma hora, acordada, vendo TV, antes de voltar a se deitar. Pensa que acabou? Engano seu. Tornou a se levantar mais seis vezes após a queda. Fomos dormir as 23:30h. Nessa noite, o primo de uma das nossas vizinha, que estuda medicina, veio vê-la e me ajudou com o curativo e a recolar na cama.




TÍTULO: OUTROS DIAS

Domingo, 11 de dezembro de 2016.


Existem dias e existem outros dias. Cada um é bem diferente do outro. Quem tem um ser amado em casa com esse alemão, que aflige tantas pessoas, que é o Alzheimer, sabe do que estou falando. Não é ter um bebê em casa, é ter um bebê, um adolescente e um idoso, e todos ao mesmo tempo. Cada hora é um acontecimento diferente, uma ideia fixa, um estalo, um grito ou um beijo, uma birra, um novo desejo, ou melhor, o repetir. Muitas vezes não sei lidar com essas situações e outras, o faço na intuição. Hoje pode ser domingo, como também, poderia ser qualquer outro dia. Será que hoje será um dia normal?

Meu dia começa quando minha mãe se levanta de manhã. Independentemente de ter acordado antes e já preparado o café, arrumado a cama ou as calopsitas). Costumo dizer que acordo antes das galinhas e, algumas vezes, acordo meus pássaros. Pode ser dia de festa, finais de semana ou dias comuns. Não importa. O calendário é igual para todos os dias santos e feriados.

Então espero.

Diversas vezes vou ao seus quarto e confiro se está tudo bem. Se está molhada ou até mesmo, respirando. Tenho esse medo. Dela não acordar. Mas, isso é outro capítulo.

Então, ela se levanta.

Começa o meu dia.

Alimentar, dar banho, higiene bucal, passar creme, pomadas, vestir, calçar, pentear e leva-la para a sala, ligar a TV no seu programa preferido. Hoje parece que tudo vai dar certo.

Ah! E tem o dia do cocô. Banho tomado, limpinha e cheirosinha e, chega o cocô. Começa tudo outra vez.

Com isso pronto, começo a me preparar para executar as tarefas de casa ou externas. Quero lembrar, que só posso sair quando tem alguém em casa, e esse alguém, hoje é a Angela, que vem alguns dias da semana ficar com ela e me ajudar nas tarefas domésticas.

O almoço sou eu quem preparo e, todos os dias, almoçamos juntas. Ela ainda come sozinha, mas fico ao seu lado acompanhando. Pode levar uma hora ou menos, mas isso não tem problema. Esse momento é nosso. Após o almoço, vai descansar um pouquinho e, quando se levanta, dependendo da hora, podemos ir ao play ou ver um filme juntas.

Por volta das 16 horas,o reloginho do Alzheimer parece que desperta e começa a síndrome do entardecer. A agitação vem num estalo e fica muito alterada. Se debate, bate com as mãos na cabeça, começa a se levantar da cadeira e vai para o sofá, que está do lado, levanta de novo, senta outra vez, coloca as pernas sobre a cadeira de rodas, deita no sofá, levanta de novo e, quando resolve ir sozinha para a porta, não tem "SANTO" que a impeça. Procuro estar ao seu lado, pacientemente, até conseguir convence-la a retornar para a sua cadeira. Durante esse período, já foi medicada e o remédio demora de 30 a 45 minutos a fazer seu efeito. Distrai-la nessas horas, não funciona muito. Quando quer uma coisa, a adolescente aparece.

Após esse momento de agitação, fica sonolenta e deita um pouco antes do lanche da tarde. Por meia hora ou um pouco mais. Retorna mais tranquila e, apesar de fazer as perguntas angustiantes, que muitas vezes nem sei o que responder, aceita o lanche e a medicação das 18 horas. Pergunta sobre uma "menina", que deve ser eu quando criança. Pergunta pelos pais e os irmãos, todos falecidos, pergunta sobre o marido, que também não está mais entre nós. Fala sobre a minha irmã, que nunca existiu, pois nessas horas, eu sou a cunhada que tem uma irmã. O pior das perguntas é quando pergunta quando eu irei retornar da escola ou do trabalho. Não me reconhece. Vou distraindo-a com o que tenho em mãos e entro na sua fantasia.

Não tem o costume de jantar e, por isso, o lanche e reforçado.

A TV fica ligada e, apesar dela não se interessar muito pelos jornais da noite, acaba olhando de vez em quando até a hora dos remédios da noite. Acostumado a tomar tarja preta, não consegue dormir sem ele. O sono vem e vai deitar.

Mas, nem sempre é assim. O sono vem, deita e a luta para não dormir acontece. Chama-me diversas vezes. Em média de seis a dez vezes antes de se render. Todas as vezes vou ao seu quarto e fico com ela e procuro descobrir o que a está incomodando. As vezes não é nada, só quer conferir se eu vou dormir em casa. Essa casa que nunca é dela, a casa que não reconhece. Então dorme.
Não existe um horário certo, depende da sua agitação. As vezes as 20:30h, outras perto das 24:00h.

Fico acordada até ela pegar no sono. Amo filmes Hindi e fico assistindo até chegar o meu sono.

Então termina o meu dia.