Vejo nas redes sociais a dificuldade de cada um de vocês. Em alguns caso penso, passei por isso e fiz aquilo e, em outros casos, graças a Deus que não vivi isso. Cada situação é diferente, pois depende muito da personalidade do paciente. Minha mãe, por exemplo, sempre foi uma pessoa forte nos seus 1,50m, que crescia quando falava e o "não" dela é "não mesmo". Teimosa como todo idoso e não gostava de ser contrariada. Quando as crises começaram eu fiquei muito perdida. Não sabia para quem perguntar e nem como dividir minhas dúvidas e frustrações. Tinha percebido que, ao falar com meus amigos, muitos mudavam de assunto ou diziam a frase tradicional "Deus vai ajudar". Mas, naquele momento eu queria apenas um abraço, um ouvido, um sorriso e não uma frase padrão. Sim, Deus iria me ajudar, mas só se eu permitisse. Nessa fase inicial eu estava brigada com Ele.
Aceitar.
Foi muito difícil e levei muito tempo.
Perdi meses.
Tinha uma rotina diária. Mamãe ainda andava e me ajudava, pouco, mas ajudava. Ficava sentadinha na sua poltrona vendo TV e olhando suas revistas, recortando.
Deus sabe como me arrependo de não ter filmado essa fase. Só entrei no Youtube em 2009, para guardar os vídeos analógicos que eu tinha das nossas viagens a Espanha e do meu pai, já falecido nessa época.
Muitos se afastaram como se Alzheimer fosse contagiosos. Poucos ficaram. Hoje, conto nos dedos os que ainda ligam ou mandam mensagens. Vocês devem conhecer a famosa frase "Se precisar de algo, me avise". Pois precisei várias vezes e a pessoas não podiam naquele momento. Ou, simplesmente vinha rapidinho e iam embora. Desisti de pedir. Esbarrar com pessoas na rua e, que tem o hábito de perguntarem por minha mãe, sempre querendo saber a idade dela. Nossa! Tudo isso! E ainda fazem aquela expressão de que ela já viveu muito. Caramba! Ontem mesmo foram duas pessoas que perguntaram.
Teve um dia, no elevador, que um senhor estava conversando com outro e um deles perguntou a idade da mamãe. Respondi. Foi mais ou menos assim:
Ele - Nossa! Deve ser muito triste chegar a essa idade e não tem saúde, o melhor mesmo é que a gente viva menos e não dê trabalho para os mais jovens.
Eu - Então eu devo ser uma filha muito egoísta, pois a prefiro ao meu lado e não ligo se isso for me dar trabalho.
Pena que o elevador chegou na portaria.
Mas, eu estava falando do aceitar. Como aceitar? Bem, não há receita mágica e cada um de nós tem uma maneira. Tem gente que o faz tão tranquilamente que nem percebe e, outras, como eu, levam um tempinho. Precisei conhecer a doença primeiro. Pesquisei muito. Li livros, assisti filmes, entrei em grupo nas redes sociais e fui aprendendo a lidar com cada situação. Cheguei a ter crises nervosas, choros ininterruptos, briguei com ela acreditando que tudo era de propósito. Fiquei noites sem dormir, meu dia tinha 30 horas. Parei de me cuidar. Um dia, putf! Caiu a ficha. Eu estava agindo de uma maneira estupida, preconceituosa, covarde, tola e infantil. Aquilo não era eu e sim, o que estava me tornando. Nunca fui egoísta. Sempre amei meus pais e os respeitava, obediente e temente a Deus. O que estava acontecendo comigo? Estava doente. Precisava mudar ou ela iria ficar sozinha.
Jesuíta com minha mãe no aniversário dos seus 87 anos.