19 junho 2019

Título: Tudo de novo.

O laboratório ligou na segunda feira, dia 13 de dezembro, para avisar que o exame dela estava pronto e que, o sangue estava muito fino. Quem está habituado a fazer exames de sangue em casa sabe muito bem que ele nunca ligam, apenas mandam por e'mail ou entregam o resultado em casa, após alguns dias. A orientação deles foi de falar com o médico imediatamente pois, se mamãe sofresse um corte, um machucado, iria sangrar muito, pois a coagulação estava muito prejudicada. Com certeza, liguei para o plano de saúde e pedi para o médico me retornar, com urgência e, meus cuidados foram redobrados. Como não obtive retorno, procurei o Dr. Paulo, que atende no bairro para falar com ele e, a noite, ele me retornou. A orientações era a mesma e que também parasse de dar a medicação para afinar o sangue, o que eu já desconfiava.
Madrugada acordada.
A faxineira veio no dia seguinte e também vieram nos visitar as amigas Jesuíta e Conceição. O enfermeiro veio logo depois para dar o banho. Casa cheia.
Deus sabe os caminhos e nos fala o que fazer.
Comecei o meu dia com a troca de fralda e, percebi que havia um pouco de cocô, com um cheiro muito peculiar. Estava muito escuro e mole. O meu desespero começou e, antes mesmo das pessoas chegarem, eu já sabia. Era sangue. Sangue que estava saindo pelo anus, junto com o cocô. Meus Deus, vai começar tudo de novo.
O enfermeiro chegou e confirmou. Liguei para o plano de saúde e desta vez consegui falar com o médico dela, que pediu um ambulância para vir busca-la. Nesse meio tempo, fui orientada de aplicar o Cister, para tirar o tampão de cocô e o sangue ser liberado pelo ânus.
Começaram a chegar as visitas e a Vera, nossa faxineira, na época.
Enquanto, Ajax, o enfermeiro, aplicava o Cister e aguardava o efeito no quarto. Mamãe se contorcia e toda aquela cena da primeira emergência vinha a minha cabeça, eu caminhava feito uma barata tonta pela casa. Tinha que me ocupar. Fui fazer café pras visitas, que nem chegaram a tomar.
Ajax levou mamãe no colo para o banheiro e ficou com ela. Era muito sangue e cocô junto. O quarto estava todo sujo, lençóis e chão. Vera foi providenciar a limpeza e a casa ficou tomada pelo odor desta mistura. Nunca mais vou me esquecer deste cheiro. Se a morte tem cheiro, é esse.
A angustia pela demora da ambulância me deixou totalmente desorientada. No banheiro, mamãe teve queda de pressão, e Ajax foi eficaz no atendimento. Não a deixou desmaiar e ficou com ela todo o tempo. A levou para o quarto e Jesuíta permaneceu ao seu lado conversando. Houve várias trocas de fraldas e muito sangue. Vera ficava passando pela sala com baldes e panos sujos e retornava para mais uma limpeza no banheiro e no quarto.
Eu anestesiada.
Finalmente a ambulância chegou e fui com ela para o hospital. CTI. Fiquei no corredor aguardando notícias e acabei sentando na escada, aos prantos. Deus! Por quê? A culpa me abateu e as cobranças vieram: eu deveria ter tido mais paciência, buscado mais ajuda, ter feito algo diferente. A sensação de impotência e o sentimento de angustia me derrubaram. Naquele momento eu era um nada. Não sei bem direito o tempo que fiquei esperando mas, me pareceram horas. O médico de plantão veio ao meu encontro e disse que a hemorragia tinha parado e comentou que eu agi muito bem ao retirar o tampão de cocô, deixando o sangue todo acumulado no intestino sair. Ela poderia ter morrido se o intestino tivesse se rompido com a pressão do sangue e das fezes. Ela ficaria internada no CTI para receber plasma e sangue e pediu que eu fosse até a recepção providenciar a internação. As visitas seriam das 14h as 15hs.
Nem voltei para casa. Fiquei na recepção do hospital aguardando o horário de visita. Mamãe estava viva. Meus Bom Deus! Obrigada.
Dois dias depois fui doar sangue.
Três dias depois, ela foi liberada para o quarto.
Nesse dia fui comprar a "poltrona do papai", aquela que reclina, para quando ela voltasse pra casa ficasse mais confortável.
No dia 20, foi programado uma Coloscopia, então, alimentação zero e remédio para evacuar. Nada foi encontrado que justificasse o sangramento que teve. A única explicação foi que, por estar o sangue muito fino, deve ter ocorrido a ruptora de algum vaso, que acabou causando todo esse sangramento.
Recebeu anestesia e duas pessoas acompanharam o procedimento. Tudo muito tranquilo. Menos para minha mãe, que após esse exame, alucinou, contando coisas sem nexo.
Recebeu alta dia 22 de dezembro e, todos os dias, Jesuíta ia nos visitar e levar o meu almoço.
Ao retornamos para casa, mamãe não reconhecer o quarto. Muito confusa e cansada, conseguiu dormir a sua primeira noite.
Eu nem desconfiava que tudo aquilo tinha despertado o Alzheimer nela.
Os dias que se seguiram, foram extremamente estressantes, pois ela ainda não conseguia dormir de noite, só de dia. Ficava agitada, via sombras, falava sozinha e eu, dentro do possível, ficava com ela.
Conseguia cochilar durante uma hora e meia por noite, que era quando ela dormia.
Dr Paulo veio nos vistar na véspera do Natal e passou uma medicação para tentar faze-la dormir. Não funcionou. Foi o primeiro Natal sem arvore, sem presentes, andando de um lado pro outro, tentando acalma-la. Todos diziam que era devido o período em que ficou no CTI, normal isso acontecer com idosos, essa confusão mental e a troca do dia pela noite.
Minha grande surpresa foi a minha visita Rosângela, uma amiga muito querida, que veio a minha porta com um prato contendo a ceia de Natal. Tinha um pouco de tudo. Se ofereceu para fazer uma sopa de inhame pra mamãe no dia seguinte e cumpriu. Coloquei em potes para aquecer a medida que fossem necessários.
No dia de Natal, minha amiga Lucinda, que já tinha nos visitados durante a internação, veio com a família.
Eu estava perdida, com sono, cansada, estressa mais uma vez.
Qualquer sintoma de dor, eu estava pronta para correr com ela até o hospital mais próximo.





Ah! Estava me esquecendo, os dois coágulos, os da trombo, lembra?, pois bem, desapareceram. Não havia mais nada nos exames feitos no hospital. Acredita-se que, com a perda de sangue, eles foram juntos.










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