17 junho 2019

Título: Pneumonia

A recorrência de pneumonias é devido a fragilidade respiratória causada pelo Alzheimer, que, não mata, como todos sabem. Problemas respiratórios, como bronco espasmo, bronco aspiração, pneumonia e problemas cardíacos, ocorrem com mais frequência ao avançar da doença.
Como ela está acamada nessa fase, fluidos acabam se formando no pulmão e, todo o cuidado é pouco. Mante-la o máximo de tempo sentada, vira-la com certa frequência, podem facilitar no cuidar do dia a dia.

Então, peguei minhas anotações de 2010 pra cá e fui ver as internações e corridas para a emergência.
Acredito que, pelo período de diagnóstico, minha mãe já estava com Alzheimer nesta época, ainda não diagnosticada.

Tudo começou em 2010, dia 28 de outubro.

As três da madrugada, acordei com minha mãe aos berros, de dor. Ela já estava se sentindo mal, desde o dia 13 de outubro deste mesmo ano, após uma queda que teve no feriado de Nossa Senhora Aparecida, na porta do banheiro, após injeção de medicamentos  para ir ao banheiro, devido a dificuldades de evacuar. Por andar com a ajuda de muleta, acabou escorregando as 16 horas aproximadamente e, pedi a ajuda de um funcionário do prédio para levanta-la. Ficou dolorida e não quis ir a emergência porque o remédio estava fazendo efeito e precisa ficar no banheiro. Bem, os dias seguintes, ela ficou com dor e, pois o bumbum ficou roxo pela queda e, a levei a emergência que diagnosticaram com Dor no Nervo Ciático, começaram com um tratamento com anti-inflamatórios. Fizeram um raio X e ultra sonografia da região e não encontraram fraturas. Essa dor, deve ser horrível, pois ela parou de andar de um momento para outro e só queria ficar na cama. Por esse motivo, pegue emprestado um andador, que nem fez uso. Não conseguia ficar em pé. Gritava muito. No dia 23, de manhã bem cedo, chamei a ambulância do plano de saúde que deram uma injeção com anti-inflamatórios. Ao meio dia, não aguentando de dor, a levei a emergência de novo. Mais anti-inflamatórios. Voltamos pra casa as 17 horas e, seu apetite praticamente desapareceu por esses dias. Era um custo faze-la comer. Vitaminas, sucos, sopas, tudo foi feito e ela só tomava um pouquinho alegando muita dor. Dois dias depois, a ambulância retomou em casa e confirmou o diagnóstico de nervo ciático, que era assim mesmo, fazer compressas, dar a medicação e de novo, uma injeção. De tarde, a levei a emergência novamente.
Ou seja, em um período bem curto, fomos a emergência três vezes e chamei a ambulância duas vezes.
Em todas essas cinco consultas, diagnóstico de Nervo Ciático e anti-inflatório. Noites sem dormir e sem se alimentar direito, não podia dar certo.



As três da manhã, com o estomago estufado, quente e vermelho, gritando de dor, fui acordada. Imediatamente chamei a ambulância que chegou duas horas depois. Durante esse tempo, fiquei com ela, tentando amenizar, sem exito. O diagnóstico imediato deles foi de rompimento do intestino, internação imediata com cirurgia. Começou a busca por um hospital que tivesse condições de se realizar esta cirurgia de emergência e fomos parar no bairro de Laranjeiras. Bem no momento da troca de equipe. Nós duas, na sala de emergência, ela gritando e se contorcendo muito e eu dando trabalho a nova equipe para que algo fosse feito de imediato. Foi feito imagens as sete horas da manhã. Nelas, não conseguiram identificar se era do intestino ou do estômago que tinha se rompido. Seria internada e uma equipe chamada para a cirurgia. Fui em casa buscar roupa e os documentos necessários quando o médico cirurgião me ligou as 11 horas, pedindo autorização para realizar a cirurgia, pois não daria tempo de me aguardarem. Tratava-se de uma cirurgia de risco nível 4.
Vocês podem imaginar o meu desespero!
Cai em prantos aos pés de Nosso Senhor e pedi, pedi muito, uma chance de cuidar dela. Que eu a aceitava do jeito que ele a me devolvesse. Chorei muito e, liguei para uma amiga, e fomos juntas para o hospital. Cheguei na hora em que o médico estava indo para a sala de cirurgia, pois minha mãe já estava lá com a equipe. Me contou que hoje não era o dia dele estar de plantão, mas que o hospital tinha ligado e ele se prontificou. Isso pra mim já era um sinal.
Durante as duas horas seguintes, a agonia, a ansiedade e milhões de pensamentos se formaram. Foram as piores horas de espera da minha vida. E Deus me atendeu.
Ficou do dia 28 de outubro ao dia 4 de novembro no CTI, sem poder se alimentar e sem beber água. O rompimento tinha ocorrido no estômago devido as fortes medicações que tomou. Todos os dias as 13 horas eu estava com ela. E todos os dias as 14 horas ia pra casa e olhava suas coisas, sua cama vazia, o armário, chinelo no meio da sala, que deixei até o dia que retornou. Toda vez que o telefone tocava, meu coração parava. Um sentimento de impotência tomou conta de mim e, mantive uma vela acessa para Santa Rita de Cássia durante todo esse período.
Minha mãe teve as mãos amarrada, feito luva de box, foi contida na cama e, chegou a ser entubada por 24 horas. A sedaram pois queria sair da cama e ir pra casa. Me chamava direto e eu não podia ficar com ela. As pessoas sempre me perguntava como ela estava e, alguns otimistas, me davam um abraço e palavras de conforto. Outras, já agiam negativamente. Essas, já não fazem parte da minha vida.
Ela alucinou no CTI.
Contou-me coisas sem pé e cabeça e, por falta de experiência, não sabia o que estava acontecendo. Apenas me falaram que o CTI desorienta muito os idosos.
Seria já o Alzheimer?
Dia 4 de novembro, desceu para o quarto. Fiquei com ela todos os dias. O trajeto de ir e vir era muito longo e justamente no horário do rush. Mas tinha que ir em casa cuidar dos meus canários. No dia 19, ela teve o que chamamos de broncoespasmo, bem na hora do almoço. Conclusão: CTI por 24 horas. E lá fui eu de novo pra casa, desanimada e desamparada. Soube depois, que ela tinha desenvolvido uma pneumonia, infecção na urina (tipo grave), pois pensavam até em hemodiálise e, para concluir, trombo na virilha.
No dia seguinte desceu para o quarto.
A alta só foi acontecer no dia primeiro de dezembro.
Mamãe ficava tranquila durante o dia todo e, nas noites em que eu não podia ficar, demonstrava alterações de humor e de comportamento.
Deixei com ela o celular e, de hora em hora ela me ligava, não tinha noção do horário e nem se lembrava que já tinha falado comigo. Podia ser 2h da manhã ou acabado de sair do hospital. A equipe de enfermagem reclamava dizendo que eu não a podia deixar sozinha no quarto e eu, falava que não eram todos os dias, que precisava resolver problemas na rua e, quando a deixava, era com alguém. Menos algumas noites em que não consegui ninguém.
Bem, durante essas noites, foi fralda jogada no meio do corredor, pois deixavam a porta do quarto aberta com a luz acessa para a monitorarem. Teve o botão de chamada arrancado (ela diz que foi a enfermeira e a mesma diz que foi minha mãe). Ela colocava o terror até o ponto da enfermeira de plantão me ligar e "mandar" eu ir para o hospital naquele momento porque ela não ganhava pra isso. Afinal de contas, minha mãe estava falando o dialeto e a enfermeira pensava que a estava xingando.
Não a deixei mais sozinha até o dia da alta.






Mas, vocês pensam que tudo ficou resolvido?


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