26 junho 2016

TITULO: DIA DAS BRUXAS.


Mamãe perdeu a prótese de baixo. Fiquei muito chateada. Como pode uma pessoa perder algo tão necessário? Procuramos essa "maledeta" dentadura que criou assas e sumiu. Reviramos a casa toda, eu e a Tatiana, que estava substituindo nossa anja Angela, num período de repouso pós cirúrgico. Mamãe sentada em sua poltrona na sala repetindo que não sabia onde estava a dentadura. Foram 3 dias de buscas. Onde vocês podem imaginar, olhamos mais de quatro vezes. Onde não se pode imaginar, mais de cinco. Abre gaveta, olha de baixo da cama, mexe nas revistas, no baú, no banheiro, atrás dos móveis, olha no lixo, puxa aqui, empurra lá. Com a dificuldade dela andar, não poderia estar muito longe dela. Mas, a onde? Não a encontramos. Não teve jeito. A leve ao dentista para fazer nova prótese.
Estávamos no ano de 2014, início de outubro.
O consultório dentário fica no mesmo bairro, no mesmo quarteirão, numa rua paralela. Por ser uma via movimentada, não tem como estacionar. O jeito é leva-la na cadeira de rodas, desviando dos buracos das calçadas.
Na última consulta, na prova final da prótese, infelizmente a roda dianteira da cadeira de rodas, ficou presa num desses buracos, em frente a uma padaria, bem na esquina da avenida principal, pertinho do consultório. Graças ao Bom Deus, minha mãe estava com o cinto de segurança e não caiu quando a cabeira quase tombou, pois a roda, ao ficar presa, quebrou.
Pedi ajuda a um funcionário deste estabelecimento, que estava no balcão conversando um um cliente. Ele não foi feliz ao dizer que a culpa era minha por levar minha mãe numa cadeira de rodas pela rua e que os pneus estavam vazios. O quê? O sangue espanhol de minhas veias ferveram e, como ainda estava segurando a cadeira para não tombar com o peso, ele acabou me ajudando, após vários pedidos. Ao me afastar, percebi que esse rapaz tinha retornado pata o balcão e, junto com o cliente, ficaram rindo. Percebi isso como uma ofensa e, sem deixar minha mãe, em sua cadeira de três rodas, perdi a cabeça e falei coisas que nem mesmo Deus acreditaria. O mesmo nem se dignou a me ajudar e ainda por cima estava rindo! Ao meu socorro, a caixa da padaria, veio e, com uma força descomunal, conseguimos guiar a cadeira até o consultório. Nem preciso falar que mamãe estava totalmente apavorada e, mesmo assim, fui em busca de alguém que pudesse me ajudar no retorno a casa. Seria impossível voltar daquela maneira. Chamei vários táxis que não pararam. Não são todos que aceitam levar uma cadeira de rodas. Dá trabalho. Acabei chegando a esquina, com dificuldades, a mesma esquina onde aconteceu o acidente. Pedi então pra falar com o responsável. Não vou citar nomes. Sou cliente dele há anos e ele me conhece, por ter sido também nosso vizinho e, tempos atrás, nosso inquilino. Ele já sabia o que tinha acontecido e defendeu o funcionário alegando que ele estava rindo de outra coisa. O mesmo já tinha se desculpado e esse assunto já estava enterrado. Eu só queria uma carona até em casa, pois seriam impossível levá-la daquela maneira. Após a recusa e a minha ameaça de chamar a polícia, ele acabou nos levando. Não antes de dizer que a responsabilidade da calçada quebrada era da Prefeitura e se eu desejasse colocar na justiça, que acionasse a Prefeitura. Sabe de nada inocente. para quem desconhece o assunto, a calçada é de responsabilidade do proprietário do imóvel e, cabe a Prefeitura fiscalizar.
A bruxa estava solta e o dia 31 de outubro ficou marcado.
No dia seguinte levei a cadeira de rodas para o conserto e, por R$ 420,00 reais, ela retornou como nova. Afinal de contas, é uma Jaguaribe. A metade, ele pagou, contrariado. Mas pagou, após um bom tempo me fazendo esperar, pois estava muito ocupado com o seu estabelecimento.
A dentadura custou caro.
Nunca mais a perdeu.
Pelo menos, até hoje. Até porque, não a usa mais e ela está bem guardada.







2 comentários:

  1. Meu Deus Juana tô chocada com a atitude humana e aposto que n foi a primeira nem a última que passou por isso. Que triste essa história.

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    1. Foi muito humilhante e triste. Viro bicho quando isso acontece. Mas, passou.

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