TÍTULO: O TEMPO É DIFERENTE.
Nesse primeiro ano pós cirúrgico, procurei realizar vários passeios com ela, usando a cadeira de rodas, pois ainda não estava firme para usar a muleta na rua. Fato que nunca aconteceu. Nunca mais andou na rua de muletas. Íamos no shopping nos sábados ou no Jardim Zoológico. A Vera já não trabalhava mais conosco mas, tinha montado uma barraquinha na Quinta da Boa Vista e, aproveitávamos para visita-la. Mamãe adorava ir no Zoo, tiramos muitas fotos. Andávamos pela Quinta, fomos no Museu Nacional e fazíamos um lanche por lá. Voltávamos cansadas e ela ia direto pra cama tirar uma soneca. Tudo parecia estar se normalizando.
Em Maio fomos visitar minha madrinha em Laranjeiras e as duas amigas mataram as saudades. Pelo menos duas a três vezes na semana, íamos no play do prédio no fim da tarde, para tomar um solzinho e outras vezes, andávamos na rua do bairro. Esses passeios começaram a diminuir porque era mal chegar no lugar que ela já queria voltar. As calçadas também não ajudam muito um cadeirante.
Mamãe começou a perder a noção do tempo, já não sabia que dia da semana estávamos ou o mês. Tinha pouca noção das horas, apesar do relógio ficar sempre perto dela. Cinco minutos pareciam duas horas e quatro horas eram dez minutos. Me chamava sem controle, só para saber se eu estava em casa ou por algum outro motivo que não lembrava. Hoje vejo isso claramente, mas na época não imaginava que poderia ser o princípio do Alzheimer.
Sempre gostou de ver revistas de viagens e ela ainda tinha uma assinatura mensal (10 anos de assinatura). Comecei a buscar revistas para ela olhar e recortar as figuras mais chamativas pra ela. Montamos vários álbuns com esses recortes. Outros, ela guardava por tema em envelopes separados. Pássaros, árvores, vistas com muito verde, navios (especialmente), crianças, bichinhos (como cães e gatos), plantas, moveis, casas e carros, etc. Passava horas recortando, separando e classificando. Tirava um tempo para ver seus programas na TV e rezar o terço. Foi a maneira que encontrei dela ter um hobby.
Vaidosa, a manicure vinha aos sábados para arrumar suas unhas. Gostava de se maquiar e penteava os cabelos cacheados sempre que dava vontade. Não queria que ninguém a visse sem os brincos ou despenteada. No princípio ficava chateada porque eu dava o seu banho e, tentava ajudar, na hora de se vestir. Mas, ela já apresentava dificuldades por estar sentada.
Mas, tirando esses encalços, o ano de 2011 foi bom e, chegou as festas de final de ano. Desta vez teve árvore montada com antecedência, almoço de Natal (não fazemos ceia porque ela dorme cedo), castanhas e rabanada, presentes e muita alegria. Minha mãe estava comigo.
Dia 23 de junho de 2016. Minha mãe com a doença há 3 anos, com dificuldades de se expressar. Nesse vídeo, pede um lanche diferente porque está com fome. O detalhe é que já tinha lanchado antes e não se lembrava.
Nenhum comentário:
Postar um comentário