25 junho 2016

TÍTULO: SIMPLES ASSIM.

Abri mão de minha vida. Não tenho vida social, Sou divorciada e não tive filhos. Não sei como seira se fosse casada com um, dois ou mais filhos para cuidar, além da minha mãe. Abri mão de muitas coisas e não me arrependo. Quando meu pai veio a falecer em outubro de 2003, eu morava na minha própria casa, sozinha. Tinha terminado minha segunda pós e trabalhava na área de Recursos Humanos. Sou Psicologa. Ele faleceu após um ataque cardíaco. Foram 3 dias de internação no CTI do Hospital de Laranjeiras. Fomos visita-lo no horário permitido, das 12 h as 13 h. Nesta época, minha mãe já estava com artrose e andava com o auxílio de uma bengala. Foram dias horríveis, de incertezas. Os médicos não davam muita esperanças e, quase nada falavam. Eu não sabia como agir. Minha mãe se encontrava abatida e ficava ao lado dele todo o tempo que lhe era permitido. Na véspera de sua morte, meu pai reagiu ao ouvir minha voz. O médico disse que era um espasmo muscular nas pálpebras. Quero acreditar que não foi isso que aconteceu, ele reagiu e tentou se comunicar comunicar. Tanto que o coração disparou e as máquinas começaram a apitar e meu pai também mexeu a boca. Houve um corre corre de enfermeiros e médicos, que me afastaram do lado dele e deram mais uma dose de tranquilizantes. Estava em coma induzido. Foi neste momento que peguei em sua mão e prometi que cuidaria de minha mãe. Ele poderia partir sem nenhuma dúvida quanto a isso. O liberei. No dia seguinte ele se foi, as 9h da manhã, numa manhã de sábado.
Uma semana antes, meu pai, que sempre via tomar o café da manhã em minha casa, pediu para que eu sentasse com ele na sala. Queria me pedir uma coisa. Era sábado, perto das 7 horas da manhã. Me lembro como se fosse hoje. Ele, com uma xícara de café na mão, olhando-me com seus olhos azuis, pediu que eu prometesse que, se algo ocorresse com ele e, fosse necessário uma internação, que não permitisse que fosse entubado, ligado a máquinas.
Lógico que retruquei que tudo aquilo era um absurdo. Que nada iria acontecer com ele tão cedo. Mas, após uma longa insistência, prometi. Como se promete algo contra a vida? Também me pediu para cuidar da minha mãe na sua falta. Prometido. Ele foi fazer sua caminhada diária e fiquei observando seu caminhar. Me pareceu tão cansado, abatido, curvado, lento. Mal imaginava que poucos dias depois ele teria um enfarto.
Então, o que quero dizer é que a opção de cuidar de minha mãe veio antes mesmo da doença se manifestar. Não foi fácil. Foi feito. Pedi demissão do meu trabalho. Aluguei meu apartamento, vendi muito dos móveis, doei outros e me mudei para o apartamento de minha mãe, que fica no mesmo prédio. Voltei para o meu antigo quarto, o de solteira, que ela mantinha igual.
Minha mãe estava com depressão e com pensamentos fortes de suicídio. Não dava pra deixa-la muito tempo sozinha. Assumi os negócios de meu pai e acabei deixando meus trabalhos como autônoma de lado.
Simples assim.
Até que no final de 2010 nossas vidas mudaram para sempre. De novo.















Nenhum comentário:

Postar um comentário