Cheguei em casa com minha mãe, por volta das 13 horas. Estava sem chão. Queria chorar, mas disfarçava, prendia o choro e sorria. A levei ao banheiro e troquei sua roupa. A coloquei na cama e fui a cozinha preparar algo para almoçarmos. Não parava de pensar no que a Dra. tinha me dito na consulta de hoje. ALZHEIMER. Minha mãe está com Alzheimer, no mínimo há dois anos. Meu Deus! E agora?
Procurei entender todos os sinais e comecei a juntar as pecinhas. Como não consegui enxergar isso antes? A culpa chegou e bateu de frente, doeu. Afinal sou formada em Psicologia e não percebi nada. Ou melhor, acreditei que esses pequenos sinais era da idade. Afinal de contas. mamãe está com 87 anos. Neguei. Neguei e neguei de novo. Era muita dor no peito querendo arrebentar e, agora não podia. Tinha que fazer o almoço e dar de comer a pessoa que mais amo na vida.
O Alzheimer não iria me vencer. Não hoje, pelo menos.
Quero guardar todos os beijos
que você puder me dar.
Deixar-los bem escondidinhos
na memória do coração.
Não quero esquecer o sabor
deste teu carinho.
Encostar meu rosto no seu
e secar suas lágrimas.
mesmo sem conseguir entender
o que te deixa tão triste.
Na verdade a levei em outros 4 médicos antes de chegar a esse diagnóstico, incluindo um Neurologista, que acabou prescrevendo um remédio que a deixou muito lenta, babando, sem aquela luz nos olhos, com muita dificuldade de se alimentar e só querendo dormir.
Falei com ele sobre esses sintomas depois de 4 dias medicada. Era para dar continuidade ao tratamento. Mas, sinceramente, não queria ver minha mãe assim. Não sabia ainda que estava acontecendo e ele a medicou para que pudesse ter um pouco de tranquilidade na hora de dormir. Mas, ela dormia o dia todo. Como é possível isso? Joguei fora o remédio e parti para uma segunda opinião, terceira, quarta.....
Nos culpamos ao perceber que todos aqueles sintomas são na
verdade o início de uma demência. Confundimos esses sinais como coisa da idade,
caduquice, esquisitice ou envelhecimento normal esperado. Não paramos para
avaliar o que está acontecendo, afinal de contas, qual o problema de pessoa
repetir sempre a mesma história? Ou ainda, esquecer palavras ou confundir-se
com o nome de objetos? Quem nunca conversou com a televisão? Ou esqueceu a onde
guardou o controle da TV? Ou até mesmo se perdeu na rua? Ver esses sinais como
natural da idade é mais comum do que se pensa. Muitos levam um ano, dois ou cinco
anos para se ter um diagnóstico chegado e, quando isso acontece, o chão se
abre. Questionar o médico, buscar outra opinião é valido, mas, enfrentar esse
diagnóstico que se repete é muito difícil. O que fazer diante dessa situação? Buscar
informações. Procurar entender o processo neuro degenerativo que se instalou no
nosso familiar e buscar uma rede de apoio. Mas, devo salientar que, antes de
tudo isso, aceitar a doença. Entender que nada irá acontecer de um dia para
outro. Ou seja, seu familiar não irá acordar no dia seguinte sem saber quem é
ou quem é você. Isso será progressivo, podendo durar anos. Aceitar e entender a
doença. Saber que uma nova história está sendo escrita no dia a dia e, conhecer
os desafios para poder se preparar.
Saímos do consultório sabendo que nada será igual ao dia de
ontem.
Acho que ao ler e reler seus escritos consegui sentir, mesmo que infimamente,sua alma sofrida mas doce, ferida mas íntegra, fragilizada mas forte, tristonha mas abundante em amor e dedicação. Porém muito só, e a solidão é perigosa pois corrompe a essência da alma. Fico feliz por você ter encontrado respostas às suas dúvidas e medos em grupos de pessoas que, como você, entendem, respeitam e se apóiam mutuamente, deixando tudo menos pesado. Não posso estar fisicamente com vocês por motivos óbvios, mas estou aqui para vocês duas sempre que precisarem. Amo vocês e sempre amarei. Acalme o seu coração e sua alma se fortalecerá. Deus é contigo, minha irmã de alma.
ResponderExcluirMinha amiga e irmã de alma, você conseguiu resumir em poucas palavras tudo que escrevi. Dizem, que só os fortes tem missões especiais e, você também é uma dessas pessoas escolhidas. Não é a toa que somos amigas há mais de três décadas. Obrigada, sempre, pela sua força e carinho.
ResponderExcluirVou começar a ler e conhecer essa história, que tenho a certeza de que sera bem contada, com emoção.
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